Como a sujeira dos outros molda a nossa vida?
Este texto foi escrito com base no ensaio “Lixo - Como a sujeira dos outros molda a nossa vida” escrito por Theodore Dalrymple.
Este ensaio não se trata de um resumo do livro, muitas opiniões pessoais serão colocadas aqui, também, muitos capítulos do escrito original foram deixados de lado em prol de um texto mais digerível.
Antes de tudo, permita-me esclarecer que este texto não se trata de nenhuma baboseira ambientalista, discursos alarmistas como “precisamos cuidar do planeta, ele está morrendo!” não estarão presentes aqui, o livro trata muito mais da relação moral entre a sujeira que produzimos e os efeitos na psique humana do que a relação entre meio-ambiente e lixo (embora o livro, de fato consiga causar essa reflexão, mesmo não intencionalmente)
Dalrymple começa seu ensaio dando um relato pessoal das vezes que tinha que tinha que fazer o trajeto entre Londres e Glasgow e a quantidade exorbitante de lixo presente no caminho, dando ênfase as embalagens de fast-foods e garrafas plásticas de água e refrigerante, isso causou a seguinte reflexão no autor: “Desde quando passamos a nos preocupar tão pouco quanto a forma como nos alimentamos?”
O autor poderia dar uma resposta rasa e rápida a questão, puxando assuntos como expansão do comércio e das redes de fast-foods, Porém Dalrymple vai muito mais além, constatando que a expansão das redes de fast-food são muito mais consequência do que causa.
A problemática da má alimentação é um problema que é herdado da infância e tem como causa pais e mães negligentes, que dando cada vez mais atenção ao trabalho, ficam cada vez mais negligentes em relação a dietas equilibradas e manter uma alimentação saudável para os filhos, tarefa essa que envolve inúmeras dificuldades.
Em vez de treinar a criança a ter hábitos alimentares saudáveis, o que inevitavelmente envolve dificuldades, a mãe opta por uma vida mais fácil. Eis o motivo pelo qual você vê, com frequência, mães e pais em supermercados perguntando a crianças de 4 anos o que elas querem comer, eles estão negociando as dificuldades que virão ao final do dia.
Assim a autoridade é transferida do adulto para a criança, que passa a acreditar que seus caprichos são a lei, comportamento que o indivíduo acaba levando para a vida adulta.
Outra crítica ácida que Dalrymple faz em seu ensaio se trata do crescente número de jovens ambientalistas modernos que constantemente (e covardemente também) se isentam de culpa sobre a questão do lixo nas ruas.
A culpa da cidade estar cheia de sujeira é do capitalismo, da má gestão pública, das indústrias, do sistema, de todos, menos dele (que joga lixo na rua.)
Esse tipo de pensamento medíocre destrói toda a humildade e a busca por uma vida virtuosa, colocar a culpa (ou diminuí-la usando essa desculpa) de seus erros e falhas em um suposto “sistema opressivo” abstrai o indivíduo do mundo real e dos problemas de si mesmo, isso porque essas “forças opressivas” externas são muito grandes e a ação do indivíduo, ínfima. Nada que eu faça, exceto agitar em conluio com outros em busca de um mundo melhor faz qualquer diferença para o estado das coisas.
Não há sentido em buscar virtudes individuais, ou agir bem, pois a estrutura opressiva é muito maior do que qualquer ação individual, portanto criamos uma situação onde defender as opiniões certas vale muito mais do que agir bem.